Quando foi anunciado que To My Star teria uma segunda temporada, o público, especialmente aqueles que enxergam o BL como o melhor já feito na Coréia, passou a criar dezenas de perspectivas sobre quais os caminhos seriam seguidos nessa sequência. Felizmente, entre alguns escorregões e mudanças bruscas, To My Star: Our Untold Stories consegue ser uma continuação satisfatória e cheia de destaques positivos.

O desafio de To My Star: Our Untold Stories era gigantesco: dar continuidade ao excelente enredo apresentado em 2021, introduzir novos elementos e não cair na maldição da segunda temporada, um mal que assola grande parte dos BLs estendidos. Por sorte, a direção continuou a mesma, com Hwang DaSeul — apelidada de “Bong Joon Ho dos BLs” pela revista Cine21 — comandando e orquestrando de maneira única essa empreitada que já pode ser considerada uma das obras mais arriscadas no currículo da jovem diretora.

Partindo de um ponto de ruptura, o drama começa após o término do relacionamento entre Jiwoo (KangMin) e SeoJoon (WooHyun), que, à primeira vista, parece não ter sentido nenhum. Neste momento, podemos perceber o rumo que a série irá tomar nos seguintes episódios. A atmosfera começa a ficar cada vez mais pesada; as interações entre os personagens são sufocantes e a relação entre eles já não é a mesma. E o que resta para quem assiste tudo isso é uma experiência, no mínimo, angustiante.

Conforme Jiwoo e SeoJoon vão se afastando, o roteiro vai abrindo brechas e, às vezes, girando em círculos com um vai e vem desnecessário. Porém, percebe-se que todos esses “erros” são, na verdade, um jeito encontrado pela produção de tornar a história ainda mais desafiadora para o telespectador. Aqui, quem torce pelo casal acaba se descabelando com os sinais de uma suposta retomada, ou então, fica perplexo com os sentimentos extravasados demais, ou contidos ao extremo. Não há meio-termo.

A atuação de KangMin e WooHyun é fora normal. A química de ambos, no que lhe concerne, pode se adaptar em momentos oportunos. E apesar de o final deles ser meio imprevisível, a todo instante partículas substanciais de romance pairam no ar. Se no século XVIII o gênero teatral chamado Melodrama fora inventado, agora ele ganha um novo sentido. Sentido esse que pouco vemos ser utilizado em um BL.

A melancolia, componente central nessa parte dois, faz render pontos assertivos. Como foco no interior da Coréia, a série ganha uma roupagem mais delicada, silenciosa e fria. A fotografia é excelente; a edição faz o possível para parecer digna, mesmo rendendo cortes que transitam mal entre os planos propostos pela filmagem de DaSeul. Essa adversidade proporciona cenas quase inacabadas e que exigiam mais atenção, principalmente se tratando da ambientação melancólica citada anteriormente. Além disso, outros personagens são acrescentados à narrativa, o que poderia ter dado errado, visto que desse acréscimo surge a faísca de um triângulo amoroso desenvolvido sem muita profundidade.

A série ainda não deixa de apresentar certas incoerências. De resoluções fáceis para problemas mais graves, até uma pincelada básica por cima dos diferentes estágios de um pós-término de um relacionamento, questão que deveria ser retratada com mais anseio. Do outro lado da moeda, se a ideia era apostar na soturnidade de um drama capaz de gerar incômodo no pessoal de casa, isso, pelo menos, parece ter dado muito certo.

Problemas à parte, To My Star: Our Untold Stories é o que se pode esperar de uma sequência bem executada no universo boys love. Com um tempo maior de episódios, belas locações, cenários ricos e um design de produção de alto nível para um BL coreano, o que vemos ser feito aqui pode servir de exemplo, pois o fato dessa temporada ser diferente da primeira é o que a torna tão interessante.