Segue aqui o Primeiro Gole do anime Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu, anime de drama, romance e história japonesa que já tem sido considerado uma das grandes estreias da temporada. Depois de alguns anos sem uma boa obra josei, surge este anime baseado em um mangá premiado da autora Haruko Kumota. E aí, o que eu achei?

Antes de tudo, demasiadamente sensível. Apesar de fazer um apanhado aqui, devo dizer que não consigo transmitir um décimo das emoções demasiadamente sensíveis que o episódio transmite, e por isso, se você não assistiu o episódio, recomendo que evite os spoilers antes de assistir.

Rakugo

Gostaria de começar falando do título, Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu ( ???????? ). O que significa esse nome tão longo e difícil? “Rakugo“, como qualquer pessoa que assistiu o primeiro episódio do anime já sabe, diz respeito a um tipo de arte performática japonesa bem curiosa tratada nessa série, e em algumas outras como Rakugo Tennyo Oyui e Joshiraku. Um sujeito senta no chão de um palco, munido apenas de um leque e um tecido, e atua uma história cômica – por isso tem sido comparado a uma comédia stand-up, só que, no caso, na posição sentada. O anime é essencialmente sobre artistas de rakugo, então essa parte é óbvia. Quanto ao Shouwa Genroku, diz respeito ao período histórico em que provavelmente se passará a maior parte do anime: os anos 70. Já Shinjuu é uma palavra que denota suicídio duplo com uma conotação amorosa, dois amantes que não podem ficar juntos, por exemplo; histórias como a de Romeu e Julieta são “shinjuu”. Resumindo tudo isso, o que temos no título “Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu” é algo como: “Suicídio duplo de amantes” no rakugo do período Shouwa Genroku. Bem, o rakugo do período Shouwa Genroku nós já vimos explicitamente no anime – ele é sobre isso, afinal! – mas o suicídio duplo… É. Só por aí já deu pra sentir que Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu provavelmente não vai ser uma história feliz.

Sobre o episódio em si, o episódio de estreia teve 47 minutos. Mesmo assim não foi nada cansativo, e passou muito rápido, porque Rakugo Shinjuu – nome dado pela equipe de produção ao projeto – é incrivelmente envolvente. E lento, também. Mas o que esperar de um episódio que começa com um ex-presidiário cheio de expressões faciais cômicas (um dom da Haruko são as expressões faciais cômicas e fofinhas que ela desenha) chegando na casa de um artista de rakugo famoso, implorando de joelhos para ser seu aprendiz? Nada muito sério? Ledo engano de quem não espera nada sério. O protagonista, Yotaro (uma gíria do rakugo para rapaz jovem; ele, ao menos por enquanto, não tem sequer nome próprio.) é uma pessoa que saiu da prisão com uma mão na frente e outra atrás, sem um lar para retornar e tem um histórico de crimes.

Mas Yotaro se apaixonou pelo rakugo na prisão, por conta de uma apresentação feita pelo seu mestre Yuurakutei, e quer ser aprendiz dele. Esse é seu fio de esperança quando ele chega para o empregado da família, assustando-o. O motorista diz que o mestre Yuurakutei, uma figura bastante conturbada, não pega aprendizes. E então surge o mestre Yuurakutei. Ele tem problemas, sim: ele é rígido, autoritário, estóico. Apesar de rakugo ser um gênero de comédia, seu rakugo transmite precisão e exatidão, mas não faz as pessoas rirem escrachadamente. Ele é mestre em sua técnica, mas falta algo. Mas ele tem uma misteriosa inclinação para acolher pessoas que não tem um lar para onde irem, e assim acolhe o criminoso, que passa a viver com ele e uma filha adotiva. Essa filha adotiva é um “problema”: ela quer ser artista de rakugo, apesar de isso ser considerado algo errado para as mulheres; logo no começo do episódio, ambos pedem para aprender com o mestre, e ele só aceita Yotaro. Eles discutem com freqüência, e descobrimos no meio do episódio que ela acusa Yuurakutei de ter assassinado seu pai.

Mas Yuurakutei, apesar de conturbado, é uma pessoa incrivelmente boa e sensível sob uma outra ótica. Assim como o yotaro, que, apesar de ex-criminoso, é honesto, faz amigos por onde passa, e leva o mestre a mudar, a ponto de revelar um lado mais sensível que nem mesmo a filha conhecia. E esse foi um ponto incrível desse episódio: os personagens. Aos pouquinhos, eles vão te conquistando, e quando você se dá conta, muitas coisas já aconteceram e você quer saber mais. Todos os personagens são muito vivos e realistas, e o episódio nunca mostra de cara tudo o que eles podem ser. O espectador é convidado a descobrir suas facetas aos poucos ao longo do episódio.

Sensibilidade e Maturidade

Boa parte do episódio mostra apenas Yotaro aprendendo a ser um artista de rakugo na casa do Yuurakutei. Enquanto Yotaro pratica rakugo, chega o ex-chefe dele na máfia, que quer ele de volta para a vida de crimes, mas ele não quer; e então Yuurakutei o incumbe com a missão de convencer seu chefe de que ele realmente quer ser do rakugo, através do rakugo. Esse é um dos clímax do episódio. Tem uma longa apresentação, ele é convencido e vai embora.

É basicamente isso que acontece em quarenta minutos de episódio. Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu é terrivelmente lento, e não faz um esforço para não ser lento: para o anime, não tem problema em passar oito minutos do episódio em uma única apresentação de rakugo – uma arte que por si só é muito inanimada, já que o intérprete fica sentado o tempo todo, e o anime é sobre ela afinal. Rakugo é uma arte parada e “entediante”, mas é mágico o quanto uma pessoa sentada consegue transmitir apenas com seu corpo humano, um leque e um pano. E tudo bem ser assim, tudo bem ter diálogos longos com pouca animação e não ter cores muito vivas: é uma série assumidamente mais “madura”, com escolhas diretoriais arriscadas do diretor veterano ex-SHAFT Mamoru Hatakeyama.

Mesmo sendo uma animação e não atores de verdade, o rakugo de Yuurakutei e Yotaro é bem diferente, e a animação toma um cuidado essencial com isso. Yotaro tem movimentos rápidos, é empolgado, grita e fala tudo com ritmo. O próprio Yuurakutei diz: ele tenta compensar a falta de experiência com empolgação. Já o rakugo de Yuurakutei é como a pessoa dele aparenta ser: estóico, com movimentos precisos e experientes, com o mínimo possível de esforço em um certo sentido. O fato de terem escolhido dubladores veteranos, além do cuidado com a animação, certamente foram fatores que ajudaram a fazer bons rakugos. Claro que, sendo um anime de rakugo, eles precisavam dar uma atenção a mais a essa parte, mas eles poderiam não ter tido sucesso e não foi o caso aqui.

No mais, uma das coisas que descreve, ao menos esse primeiro episódio do anime, é: sensibilidade. Condizendo com os personagens realistas e humanos, o anime é de uma sensibilidade ímpar. É interessante observar como o lar de Yuurakutei e Konatsu – a filha – é desestabilizado totalmente com a chegada da personalidade espontânea, honesta, quase ingênua do Yotaro. Ele propõe uma coisa pequena (ser aprendiz de Yuurakutei – ele mesmo já sabia que Yotaro queria isso!) e faz isso se transformar em um grande evento (Konatsu admitindo que quer aprender rakugo também) e essa abertura da garota para o pai adotivo culmina em uma revelação de Yuurakutei, no final do episódio, de algo que ele nunca havia dito para mais ninguém – e certamente não pensava em dizer – a respeito da amizade com o pai da garota. Assim, ele começa a contar uma história do passado, do período Shouwa Genroku, que quiçá durará o resto do anime… Cenas dos próximos capítulos.

Capítulos pelos quais eu estou aguardando ansiosa, pessoalmente. Saudades de joseis convencionais e bons, com personagens maduros e ritmos despretensiosamente lentos. Por esse primeiro episódio, diria que não é a toa que Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu foi premiado. Está sensacional, e muito recomendável. Quis ver mais e mais, mesmo o episódio tendo 47 minutos.

É isso. Críticas, sugestões e etc. são muito bem vindas. Espero que tenham gostado do post, e até mais!~

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Texto originalmente publicado no NotLoli