Maior candidato a cringe da Temporada de Verão 2020, Rent a Girlfriend explora um tema real e muito digno de reflexão do jeito mais desconcertante possível. E o pior de tudo, ele faz isso muito bem, aos mesmo tempo que te deixa agoniado. Seguindo a tradição de Kuzu no Honkai e Domestic Girlfriend, você confere neste Primeiro Gole a vida de um rapaz tão real quanto muitos de nós somos ou já fomos antes.

PINCELANDO O MERCADO DE AFETOS

Baseado no mangá de Reiji Miyajima, ainda em publicação, Rent a Girlfriend conta a história de Kazuya Kinoshita, um universitário de 20 anos que acabou de tomar um pé na bunda da namorada, após um mês de namoro (dá mesmo pra chamar isso de namoro?). Em sua já explícita inexperiência com o sexo oposto, o anime nos apresenta um Kazuya miserável, garoteando como todo garoto que todo um dia foi. Mami Nanami era a menina dos sonhos: bonita, fofa, meiga, muy caliente e ser despejado do dia para a noite faz um estrago no seu emocional.

E na incapacidade, entre dúvidas e auto questionamentos, de lidar com sua própria miséria, Kazuya recorre a um serviço muito real no Japão, procurado principalmente por essas pessoas de inseguranças e traumas acumulados e que estão dispostas a pagar para ter com quem andar de mãos dadas na rua: namoro de aluguel.

Verdade seja dita, fracassos amorosos ambulantes são uma realidade em qualquer lugar no mundo, mas a Ásia parecer já estar vivendo em 2040 e aprendeu a tirar um cascalho disso. Seja no Japão, na Coreia ou mesmo na China, existe todo um mercado de afetos bem mais desenvolvido do que a mera e simplória prostituição onde agências buscam tirar um dinheiro às custas da miséria alheia para ter uma companhia que vai sorrir pra você e te amar… pelo preço certo.

Afinal, existem certas coisas vitais que sexo apenas jamais proverá.

MENTIRAS E BOLAS DE NEVE

Perdoem se o tom do último parágrafo pareceu áspero demais. A intenção não é julgar quem trabalha com isso, ou mesmo a genialidade de quem encontra uma demanda e cria uma oferta para atendê-la. A culpa aqui nem é das profissionais e nem do capitalismo. Apesar do anúncio online no primeiro episódio que promete “aliviar sua solidão” e que cativa o já fragilizado Kazuya ser um tanto canalha (pois promete algo impossível), o fato é que a culpa das desgraças que caem sobre Kazuya restam sobre os seus próprios ombros e de mais ninguém.

((tem um pouco também de pequenas coincidências bem convenientes que o autor ama colocar de tempo em tempo, mas isso é outro papo))

Na sua cabeça, ter uma namorada tem haver não só com corresponder sua libido irresponsável, mas atender às expectativas de amigos e familiares que caem sobre suas costas. Afinal, quem herdará os negócios da família? Quem dará um bisneto para sua avó? E quando é que você vai poder finalmente dizer para os seus amigos da rodinha que descabaçou?

Todas essas pressões fazem com que Kazuya sinta valer a pena levar seu fingimento com Chizuru Ichinose, sua “namorada” de aluguel, mais a frente do que deveria. Só que a mentira é uma bola de neve… e quanto mais para frente Kazuya leva sua farsa, mais nós, como expectadores, rangemos os dentes de raiva, porque toda essa série de cagadas feita por esse moleque inseguro e com zero de auto-conhecimento é tão autêntica e reconhecível tanto para nós quanto para os nossos.

Recomendo o anime, disponível na Crunchyroll, já pedindo desculpas em adianto pela experiência dolorosa. Mas é um aprendizado. Todos um dia já fomos ou ainda somos um Kazuya da vida. Talvez o mesmo valha até para o próprio Miyajima e por isso mesmo ele tenha tido a sacada de transformar suas angústias e desgraças em literatura, quem sabe? Esse é um exercício que merecia mais adeptos.

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