Chegando ao fim após sua estreia em 2018, Piano no Mori (ou Forest of Piano) teve algumas falhas visíveis que foram mais do que compensadas por sua história cativante e uma perfeita ambientação do mundo da música erudita. Confira mais no REVIEW!

UM ANIME BASTANTE PESSOAL

Sendo uma joia para os amantes de música, assistir Forest of Piano foi tanto uma experiência gratificante quanto pessoal. Por isso este review não poderá ser escrito da mesma forma impessoal que prezo; um anime sobre música clássica me salta aos olhos porque resgatou um velho amor de infância muito inusitado para qualquer criança. Vejam bem, caro leitor e cara leitora, a hora, o lugar e o momento eram tudo menos propícios, ou ao menos prováveis para que uma criança adquirisse um gosto desses na virada do milênio. A família jamais teve laços com a carreira musical (ponto em comum de vários estudantes de música por aí), os bailes na modesta favela do Muquiço tornavam o funk a língua franca dos ouvidos de toda gente e o contato com as outras crianças deviam reforçar certos gostos e hábitos comum a todos, certo? Errado. E não me perguntem o porquê. Mesmo enclausurado como Jimmy Bolha, ainda havia o contato com outras crianças na escola, o que serviu mais para ampliar as diferenças do que aproximar as partes. O resultado disso, qualquer um que foi atazanado a infância e/ou adolescência inteira na escola sabe.

(É mesmo necessário ressaltar que sim, os caminhos que levam as pessoas para a música erudita são os mais variados possíveis? Sim, sei bem disso. Antes que me atirem pedras, é uma generalização, então tratem como uma. Fiquemos entendidos assim.)

Então antes de tudo, Forest of Piano acertou em cheio por me lembrar de onde vinham tantas e tantas músicas grudadas no porão de minha memória. Músicas que ora apareciam em desenhos antigos ou na rádio de música clássica da Sky apareceriam outra vez, desta vez saudando seu criador: Frédéric Chopin. Para que alguém possa aproveitar o anime, é preciso conhecer algumas coisas de antemão; assim sendo, algumas notas biográficas sobre Chopin, sua obra e seu legado são necessárias, pois muitas vezes o anime pressupõe esse conhecimento prévio.

Piano no Mori
Piano no Mori (Imagem Divulgação)

O SÍMBOLO POR TRÁS DE TUDO: FRÉDÉRIC CHOPIN

Nascido de pai francês e mãe polonesa nas vastas planícies de Zelazowa Wola, Frédéric Chopin foi introduzido ao piano pela sua mãe aos seis anos de idade. Sua carreira começou cedo, compondo desde os dezoito anos peças como as polonesas, e mazurcas. As conexões de seu pai, Nicolas Chopin, com a aristocracia polonesa e de outras pessoas importantes de diferentes regiões ajudaram a alavancar a carreira do jovem músico.

Com dezenove anos, Chopin viajou para Viena, onde seus concertos bem avaliados o inspiraram a compor o grosso de seu repertório, como valsas, estudos (sendo um desses estudos a abertura de Forest of Piano) e noturnos, já com vinte anos. Em 1830 ele compôs seus dois concertos que são usados nas finais do concurso internacional de piano promovido pelo Instituto Chopin, que são boa parte da metade da segunda temporada de Forest of Piano. O Concerto em Fá Menor, apesar de consideravelmente criticado a ponto de irritar Chopin, rendeu o seguinte comentário: “Os poloneses são sortudos em terem Chopin assim como os alemães tiveram Mozart”. Seu segundo Concerto em Mi Menor foi recebido como “o trabalho de um gênio”. No ano seguinte, Chopin se mudaria para Paris onde permaneceria até o final da vida, sendo um popular professor de piano e trabalhando em outras composições. De 1831 até 1849, quando morreu prematuramente de uma doença pulmonar, ele viajou várias vezes para realizar concertos e eternizar sua fama por todo o continente como o símbolo da Polônia.

Frédéric Chopin (Imagem Divulgação)
Chopin, em 1849 (Imagem Divulgação)

Enquanto seu reconhecimento no meio musical foi certo desde o início, em sua terra natal ela foi se estabelecendo aos poucos. A Polônia do tempo de Chopin vivia tempos conturbados e houve momentos onde o próprio amargurou o fato de ter sido incapaz de lutar pela sua nação.

Mas no final do século, em 1880, o coração de Chopin foi sepultado na Igreja de Santa Cruz de Varsóvia; é possível vê-la no anime, num momento muito importante para um dos personagens, com a inscrição bíblica de Mateus 6:21, “Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração”. Os discípulos de Chopin passaram seu legado e em 1915 o pianista Claude Debussy (autor de Clair de Lune – música que aparece na franquia de jogos eletrônicos The Evil Within) dedicaria sua série de doze estudos ao compositor polonês.

Finalmente, em 1927, seria inaugurado o Concurso Chopin, reunindo pianistas de várias partes do mundo. Sua realização foi interrompida nos anos penosos da invasão nazista e soviética (1937 – 1949) e desde 1955 ele é realizado até hoje a cada cinco anos. O Concurso Chopin também é o palco onde os personagens principais de Forest of Piano colocam os seus talentos à prova.

A CRIAÇÃO DA OBRA “Forest of Piano”

O mangá de Forest of Piano estreou em agosto de 1999 pela mangaká Makoto ISSHIKI e teve 26 volumes publicados ao longo de dezesseis anos, concluindo sua obra perto do natal de 2015. Mesmo passado tanto tempo para a sua conclusão, aparentemente o mangá nunca deixou de ter sua popularidade: em 2008, ainda na metade do caminho, Makoto ganhou o prêmio de melhor mangá pela Japan Media Arts Festival, evento anual organizado por um ramo do Ministério da Educação do Japão. O júri decidiu premiar Forest of Piano por julgar sua história e seus protagonistas infantis mais atraentes para um público mais amplo.

A inspiração para o enredo? Na entrevista que seguiu a premiação, Makoto mencionou um documentário que apresentava a trajetória do pianista russo Stanislav Bunin, vencedor do Concurso Chopin de 1985. Apesar da origem russa e da cidadania alemã, Bunin tem forte presença no Japão, morando com sua esposa japonesa e tendo sido professor numa escola de música em Kawasaki. Indiretamente, sua presença motivou uma história musical onde Makoto ISSHIKI pôde expressar um ótimo talento em construção de personagens.

ALGUNS PERSONAGENS MARCANTES

Essa parte é o ponto mais forte do anime. Cada um dos jovens músicos possui uma relação própria com a música e uma abordagem diferente com o piano, que varia de acordo com a personalidade e os sentimentos de cada um. E não é só de jovens pianistas que vive Forest of Piano. Veteranos da música, professores, jurados e familiares compõe peças chaves do enredo.

No nosso Primeiro Gole, focamos a amizade de duas crianças: Ichinose Kai e Amamiya Shuuhei. A história estilo “menino-pobre/menino-rico” não ficou assim por muito tempo; na verdade, o arco que mostra a infância deles não dura sequer metade da primeira temporada: tão logo termina o concurso infantil de piano, somos transportados dez anos à frente nos preparativos para o Concurso Chopin. No entanto, ainda que breve, esse arco mostra situações-chave para os dois jovens que serão relevantes para a próxima parte. Vemos a construção da tutela do Kai pelos seus professores e despedidas que o avançará num novo capítulo da vida; vemos as raízes da ansiedade e do comportamento reprimido de Shuuhei, imposta pelo pai que o sobrecarrega de expectativas. Então podemos seguir adiante para outras figuras centrais do anime

AJINO SOUSUKE

Professor de música na escola onde estudam Kai e Shuuhei, bem como uma lenda imbatível no piano. Um grave acidente de carro lesiona permanentemente sua mão esquerda, o que o força a se aposentar do piano e se retirar da fama. O seu piano fica largado à floresta, sem funcionar nas mãos de ninguém. Mas milagrosamente, as mãos talentosas do menino Kai ressoam a melodia perdida do piano da floresta, que impressiona e estarrece o professor.

Sousuke é a figura da experiência no anime, que introduz tanto ao Kai quanto ao espectador noções fundamentais, como o jeito único que cada pessoa tem de tocar piano e expressar suas próprias melodias, algo como uma impressão digital. Sousuke incentiva com rigor que o seu aluno busque autonomia como músico e não simplesmente o copie. De personalidade serena, mas melancólica, pode não ser um professor por formação, mas é com certeza um grande professor por aptidão.

AMAMIYA YOUICHIROU

Youichirou é pai de Shuuhei e ex-profissional no piano. Boa parte de sua vida é vivida na sombra de Ajino Sousuke, rival que ele nunca conseguiu superar no piano e esse fato o enche de angústia e rancor. Esses sentimentos negativos ecoam no seu agir como pai. Por trás da cobrança rígida em tornar seu filho um exímio pianista e de todo o investimento em sua carreira, está sua obsessão em superar Sousuke, derrotando seu aluno, Kai. Mas engana-se quem o reduza a uma pessoa má; o anime tem esse espaço para a maldade e esse espaço não pertence ao Youichirou. Seu amor pelo filho é genuíno, ainda que distante e ele reluta fortemente em admitir que projete em Shuuhei as suas frustrações como músico pois sabe bem o ato terrível que cometeria. Quem faz a mediação entre pai e filho, assombrado e sobrecarregado é a mãe, Namie. Ela é o principal apoio emocional que na família Amamiya.

PANG WEI

Entre os competidores que passam para a segunda etapa do Concurso Chopin, Pang Wei é o personagem mais desenvolvido pelo anime. Infelizmente essa é uma falha notável em Forest of Piano: o estúdio Gainax optou por apressar onde não precisava e condensar em 24 episódios uma obra rica que poderia ter sido estendida em mais dez ou quinze episódios e entregar um anime à altura do mangá. Mas não foi o que aconteceu. E assim, personagens como Jean-Jacques Serrault, professor de Sousuke, ou a pianista Sophie Omersson tiveram uma aparição bastante pífia; e personagens como o pianista Karol Adamski simplesmente somem em certa altura do anime depois de ter seu conflito apresentado. Talvez o motivo de Pang Wei ter ganho destaque seja pelo seu passado trágico: sendo uma criança miserável num pobre vilarejo chinês, ele é vendido ao que parece ser um mafioso que o obriga a se tornar um habilidoso pianista; caso contrário, sua própria vida pode acabar correndo perigo. A dominação é a nível que a criança tem o seu nome tomado de si, pois Pang é o sobrenome do homem que o comprou, atitude típica do cativeiro: o roubo da identidade do cativo para melhor dominá-lo. Por isso a relação de Pang Wei com o piano é uma relação violenta. Essa violência é bem expressa no seu estilo, mas sua técnica o avança como um dos melhores pianistas de todo o concurso. O desenvolvimento desse personagem mostrou como a música pode ser redentora: o piano de Ajino Sousuke foi o refúgio da criança cativa. E mesmo tendo a vida marcada por sofrimentos, o jovem Pang Wei se sente realizado ao estar naquele concurso, passando de um ninguém para um dos melhores do mundo. Isso o leva até mesmo a ser grato por tudo que o levou até lá, até mesmo ao homem que o comprou e à mãe que o vendeu, por mais moralmente dúbio que isso possa soar a muitos. Mas esse é o efeito surpreendente que a música causou nele.

LECH SZYMANOWSKI

Sim cara leitora e leitor, esse é um nome e tanto de se pronunciar: “Lérr Ximanóvski”. Curiosamente, essa complexidade dessas línguas do leste europeu mais me fascina do que me afasta, como foi parte do motivo de Monster ter me capturado do jeito que capturou. Lech é um personagem fascinante por toda a situação que gira ao redor dele, que é uma situação familiar a quem conhece o mundo da música erudita ou mesmo o mundo das artes no geral: a arte não é só feita de beleza; o mundo onde ela transita também tem muita, mas muita sujeira. Vieses, votos vendidos, favoritismos, mesmo antes de Lech se por à prova no palco, a impressão que dá é que o fato dele ser polonês precede mesmo suas habilidades e a o reconhecimento da última vem da primeira. Quando o anime nos mostra o garoto por trás da nação que ele carrega nas costas, vemos um jovem muito mais preocupado com a culpa que o esmaga. A irmã de Lech é tudo o que ele tem na cabeça, pois se julga responsável pelo seu estado de saúde. Era para ela estar lá, naquela competição e não ele. Essa culpa misturada com o afeto pela irmã o motivam a avançar na competição e pouco importa se ele nasceu na mesma terra de Chopin.

UMA DAS MELHORES MÃES NOS ANIMES: ICHINOSE REIKO

Ficamos assim com os principais pianistas do anime, além dos já explorados Kai e Shuuhei no nosso Primeiro Gole. Pra fechar essa seção sobre os personagens mais marcantes, queria deixar o último lugar para a mãe de nosso protagonista: Ichinose Reiko. Ela é de longe uma das melhores personagens do anime, bem como uma das melhores mães que eu já vi em anime, como a Sachiko de Erased. Sabe? Mães presentes e que de fato tem alguma relevância para o anime? O amor que a Reiko tem pelo seu filho é de comover os olhos e o primeiro encerramento faz questão de te lembrar disso com o abraço mega apertado que ela dá no seu pequeno prodígio, com o rosto brilhando de orgulho. O que me fascinou na Reiko, é o modo como a autora trabalhou a aparente ambiguidade dela ser uma prostituta e uma mãe zelosa e extremamente amorosa ao mesmo tempo. No anime nós não sabemos muito de onde ela vem nem por que ela entrou nessa vida; ela simplesmente é uma prostituta, ela simplesmente tem um filho que é tudo pra ela e eles vivem numa casinha charmosa na floresta. E é isso o que importa. Apesar de ter todo aquele afeto de mãe coruja, a relação entre Reiko e Kai parece muito um coleguismo de dois jovens; mal dá pra lembrar de cabeça se alguma vez o Kai a chama de “mãe”, é sempre Reiko. Mas isso não quer dizer que ele goste menos dela, pois ai de quem desmerece-la por trabalhar como prostituta; Kai não poupa energia em avançar num valentão maior que ele se isso significa não levar desaforo pra casa.

Outro lado belo do seu zelo como mãe é a relutância de confiar a segurança de Kai aos cuidados de Sousuke. É uma relação de confiança que vai se estabelecendo aos poucos até Reiko entender a grande oportunidade que o seu filho tem de conseguir um futuro muito maior do que ela conseguiria dar por conta própria. E é lógico que aceitar isso envolve numa despedida que corta o coração de qualquer mãe que tenha de lidar com o destino inevitável de “criar o seu filho para o mundo”, como diria o ditado popular. Até quando assistimos sentimos essa falta, já que a Reiko fica ausente durante boa parte da segunda parte do anime. Não sei se por acidente ou se foi intencional, mas essa saudade deixada é recompensada no momento certo no final. Suas lágrimas de gratidão compõe um dos momentos mais emocionantes de todo o anime. É incrível como, com uma única personagem, a autora de Forest of Piano conseguiu fazer de um anime sobre música um excelente veículo de sentimentos maternos que tão raro são bem retratados em anime!

Talvez o motivo dessa personagem ter me impactado tanto tenha sido um podcast bastante revelador que ouvi há tempos atrás feito pelo “Fora do Éden” sobre um trabalho social em Jardim Itatinga, considerada a capital nacional da prostituição. Nesse episódio você ouve muitas histórias de muitas Reikos e ter reencontrado uma atenção dessas em um anime ressuscitou memórias de relatos interessantíssimos. Fica aí a recomendação para quem talvez queira conhecer melhor o tipo de vida que levaria uma pessoa de coração cheio como é a mãe do Kai.

 

UMA METICULOSA PRODUÇÃO MUSICAL

Um dos pontos mais recorrentes no anime é a questão do próprio jeito de tocar piano que cada músico tem. De início alguém poderá tomar algum outro como inspiração, mas nenhum músico pode se contentar em ser uma réplica de sua inspiração; ele deve buscar alçar voos mais altos com suas próprias asas, com o seu próprio jeito de se expressar no piano, com o seu “próprio piano”. Assim é repetido várias e várias vezes. São esses os desafios de todos os concorrentes do Concurso Chopin: provar ao júri não só sua proeza técnica, mas sua autenticidade como artista.

Assisti todos os episódios de Forest of Piano com uma questão fundamental na cabeça de alguém que não se preocupa tanto em fazer uma pesquisa milimétrica sobre aquilo que está prestes a assistir, que só pega e assiste: esse zelo de autenticidade foi seguido à risca pela própria produção do anime? Um anime que a todo o momento fala de autenticidade na hora de tocar, teria que pelo menos arranjar um intérprete para cada personagem, não é? E para minha grata surpresa, foi assim mesmo que aconteceu!

Como bem lembrou o site PTAnime, um dos vídeos promocionais de Forest of Piano divulgou alguns pianistas profissionais que interpretaram os personagens do anime. Fomos apresentados aos intérpretes de Ajino Sousuke, Amamiya Shuuhei, Pang Wei, Sophie Ormesson e Lech Szymanowski, bem como algumas breves palavras do que cada um achava do projeto. A minúcia de detalhes na escolha do elenco é espantosa! Os três últimos personagens mencionados, um chinês, uma francesa e um polonês são interpretados por pianistas da mesma nacionalidade! É revelador ouvir de Niu Niu (Pang Wei) o desafio que é atuar pelo piano, tocando não como ele mesmo, mas como outra pessoa. Szymon Nehring (Lech), tendo ele próprio sido finalista do Concurso Chopin, simpatiza com a ansiedade de Lech em atender as expectativas de um concurso à altura do qual ele participa. E Juliette Journoux também espera como este autor que o anime possa despertar um interesse maior pela música.

Até os pianistas mirins são interpretados por crianças! Isso dá um ar de autenticidade ainda maior ao anime e com certeza agradará os ouvidos mais experientes daqueles envolvidos com o mundo da música. Mas o vídeo, apesar de revelador, não nos diz justamente quem interpreta a estrela do show: Kai Ichinose. Tudo o que possuo aqui são suspeitas, mas creio que quem o interpretou foi o último vencedor do Concurso de Chopin, o sul-coreano Seong-Jin Cho. A abertura do anime é um dos estudos de Chopin; e tanto a abertura quanto a performance de Seong-Jin Cho desse mesmo estudo no Concurso são absurdamente idênticas. Mas, mais uma vez, é uma suspeita. Nada que eu tenha conseguido confirmar até o momento.

CRÍTICAS FINAIS E CONCLUSÃO

Depois de tanta coisa dita que fascinou, é hora de ser franco e reconhecer que se esse anime encantou, é porque já havia uma relação muito íntima entre este que escreve e a música, o que faz de Forest of Piano um anime de nicho. E pra ser ainda mais sincero, mesmo para o público alvo, o anime consegue ser bem chato em certos momentos. Os comentários no MyAnimeList deixam isso bem evidente. O que me pareceu é que a qualidade da primeira para a segunda parte do anime cai assustadoramente; talvez por causa da diferença na competência entre os dois diretores (sim, é um diretor para cada parte, mesmo a equipe sendo a mesma) ou talvez porque toda a verba do estúdio para o anime foi gasta para as imagens maravilhosas da primeira parte que tanto foram elogiadas no Primeiro Gole. Seja como for, o fato permanece: se Forest of Piano tem uma produção musical impecável, sua produção visual é de doer os olhos. Quanto mais pessoas ao mesmo tempo por quadro animado, pior fica.

Outras coisas são inevitáveis. É impossível reproduzir em um episódio de 20 minutos uma execução de uma peça de 40 minutos como são os concertos de Chopin para piano. Mas ainda assim é desconcertante que o grand finale de Kai na final do Concurso tenha uma animação mais pobre que o seu concerto no final da primeira parte do anime que o classifica para a segunda fase do Concurso Chopin, bem mais impactante e que soube fazer os recortes certos da apresentação. Talvez se a direção do anime fosse uniformizada não seria tão nítida essa diferença na qualidade da produção.

Levando em conta tudo isso, a balança pesa mais a favor de Forest of Piano do que contra, de longe. A animação de baixa qualidade, paradoxalmente, tem momentos de pico que renderam a melhor animação de alguém tocando piano já feita. Sim, é em CGI. Eu também acharia fascinante uma animação convencional, mas qualquer um que já tenha tentado desenhar uma mão pode fazer ideia do desafio que seja animar dedo por dedo tocando tecla por tecla.

Faltou só um pouquinho para Forest of Piano se tornar um clássico sobre música clássica; alguns dez ou quinze episódios a mais para que todos os seus personagens tivessem o seu tempo e pronto. Mas o estúdio não teve essa regalia e teve de fazer uma escolha; e essa escolha foi digna, muito digna! Quem for maratonar o anime vai se deparar com uma das histórias mais belas sobre gratidão feitas em anime, tendo um final impossível de não te por um sorriso no rosto.

Mesmo com suas falhas, Forest of Piano merece sim 4 Suquinhos, sendo obrigatório para qualquer amante da música e do piano! Sua primeira parte já está disponível na Netflix e a segunda parte está para ser lançada em breve, dia 24 de junho. Aproveitem esta joia!

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REVIEW
Piano no Mori (Forest of Piano)
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Eriki
"Um historiador apaixonado por uma boa leitura e guitarrista por hobby. Alguém que ama um bom slice of life e tem um vício crônico por jogos single-player. Me aventuro a compor pequenos poemas haiku e aprender mais da cultura e da sociedade japonesa!"
piano-no-mori-forest-of-piano-reviewPiano no Mori: The Perfect World of Kai é um mangá escrito por Makoto Isshiki, que conta a história de Shuhei Amamiya, transferido para a escola elemental Moriwaki e cheio de ambição e esperança quanto à sua nova vida.