O livro ‘O Conto da Aia’ foi escrito pela autora canadense Margaret Atwood, e lançado em 1985. No Brasil, a obra foi comercializada pela Editora Rocco em 2017 e agora conta com uma nova edição com capa dura e brindes inclusos.

Além do mais, este é o livro que deu origem à conhecida série de TV com o mesmo nome, lançada em 2017.

O livro é um romance fictício, apresentando uma realidade distópica de um futuro próximo em Gilead, o país que já foi chamado de Estados Unidos. Neste país dominado por um governo totalitário e teocêntrico, grande parte da população ficou estéril em consequência dos altos níveis de substâncias tóxicas no ambiente. Assim, a prioridade do novo regime é a reprodução da espécie, fazendo com que mulheres ainda férteis sejam obrigadas a se tornarem barrigas de aluguel para as famílias mais ricas.

Pelo Túnel Branco

Somos conduzidos pela história através da narrativa de Offred, uma das mulheres ainda férteis e assim, obrigada a se tornar uma Aia. Nesta sociedade dividida em posições sociais, as Aias foram submetidas à função principal do novo governo, gerar filhos para as famílias cujas mulheres são estéreis. Contudo, as Aias estão nos níveis mais baixos da pirâmide social. Elas já não possuem autonomia sobre o próprio corpo, vestimentas, rotina ou até mesmo sua alimentação, tudo é rigidamente controlado para que tenham maiores chances de engravidar e parir uma criança saudável.

Neste contexto, O Conto da Aia começa com uma narrativa que me chamou muito a atenção. Nas primeiras páginas, Offred descreve detalhadamente a casa e o ambiente à sua volta, dando justamente essa ideia da limitação que está submetida. A descrição minuciosa de coisas aparentemente sem muita importância ilustra como grande parte do contato externo das Aias é com objetos, como esses pequenos detalhes se tornaram importantes para que mantenham a consciência sã, diante da vida que foram submetidas.

Além disso, são poucos os diálogos explícitos retratados no livro, sendo a maioria deles apresentados como parte integrante dos parágrafos, reforçando o isolamento e o silenciamento das Aias.

O Conto da Aia
Foto: Suco de Mangá

Devaneios de Outras Épocas

Ao longo da narrativa, Offred mescla os acontecimentos presentes com lembranças passadas. No começo pode ser um pouco confuso, pois assim como os diálogos, as lembranças se entrelaçam com a narrativa da história. Entretanto, isso se torna uma característica marcante do texto e da forma como a história é contada, além de serem importantes peças do quebra-cabeça que a autora oferece para os leitores montarem.

Outro fator que anda de mãos dadas com as memórias de Offred são as metáforas e alegorias que a autora não economiza em usar. Ao longo do livro, uma série de símbolos e comparações escondidas são integradas à narrativa, novamente a autora pedindo ao leitor que ponha a cabeça pra funcionar e desvende os pequenos mistérios.

No entanto, apesar dessas características serem importantes para o estilo da história, algumas vezes elas se tornam um pouco cansativas. Assim como estimula o leitor a pensar e a prestar atenção nas entrelinhas, algumas vezes a história  perde o ritmo e se alonga em partes que poderiam ser tratadas com mais agilidade.

Difícil Mas Necessário

O Conto da Aia não é uma leitura leve. O livro aborda assuntos pesados como estupro, violência, suicídio, linchamento e misoginia extrema. Muitas vezes os temas não são descritos explicitamente, como faria um gore, mas as pessoas mais sensíveis podem ficar incomodadas ao ler.

Apesar (ou justamente por) isso, creio que seja um livro importante para leitura. É uma história com um cenário de controle absoluto sobre o corpo feminino, que torna as mulheres nada mais do que úteros ambulantes, trazendo a reflexão de como as mulheres são tratadas em nossa própria época. Levando em consideração que o livro foi escrito em 1985 e agora, em 2021, este ainda é um assunto atual, imagino ser um importante tema de discussão e reflexão.

Resumindo, O Conto da Aia não é um livro para espairecer e se divertir, mas sim um que te faz pensar sobre os absurdos que lutamos todos os dias para que fiquem cada vez mais distantes da realidade.

O Conto da Aia
Foto: Suco de Mangá

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REVIEW
O Conto da Aia
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Jaqueline
Um pouco avoada, a doida das teorias da conspiração e leitora compulsiva do Nome do Vento. Adoro escrever sobre aleatoriedades, observar a natureza e ser engraçadinha em momentos impróprios, afinal esse é meu jeito ninja de ser.
o-conto-da-aia-livro-reviewO romance distópico O conto da aia, de Margaret Atwood, se passa num futuro muito próximo e tem como cenário uma república onde não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes. As universidades foram extintas. Também já não há advogados, porque ninguém tem direito a defesa. Os cidadãos considerados criminosos são fuzilados e pendurados mortos no Muro, em praça pública, para servir de exemplo enquanto seus corpos apodrecem à vista de todos. Para merecer esse destino, não é preciso fazer muita coisa – basta, por exemplo, cantar qualquer canção que contenha palavras proibidas pelo regime, como “liberdade”. Nesse Estado teocrático e totalitário, as mulheres são as vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes. O nome dessa república é Gilead, mas já foi Estados Unidos da América.