Mulheres, livro de Osamu Dazai traz 14 contos narrados por mulheres

Mulheres
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Com catorze contos, todos eles narrados por mulheres, a façanha do livro, embora arriscada para um escritor homem, é exercida com maestria por Osamu Dazai. Ao deixar que sua voz seja tomada por essas vozes femininas, o livro ‘Mulheres’ nos mostra os dramas vividos por essas fortes personagens.

A vida do escritor Osamu Dazai foi muito conturbada. Ele se envolveu com gueixas, foi expulso de casa, se viciou em álcool e morfina, tentou o suicídio diversas vezes, e acabou suicidando-se. Por causa disso, uma mangá muito famoso o transformou em ficção: Osamu Dazai é o protagonista de Bundo Stray Dogs.

Não só, porém, a conturbação é o que faz brilhar a aura do autor. Na verdade, isso é o que menos importa no fim das contas. A grandeza de Dazai está em seu mérito literário. Declínio de um homem, seu romance mais celebrado publicado pela Estação Liberdade em 2015, inclusive tendo adaptação para dois mangás, é um sucesso absoluto. Em pouquíssimo tempo, já recebeu várias reimpressões. Nesse sentido, Mulheres mantém a qualidade.

Mulheres e suas batalhas

Neste livro, uma mulher tenta justificar o roubo cometido. Mais do que isso: questiona se a sociedade deve julgá-la por aqueles pouquíssimos segundos do ato criminoso, quando ela age fora de si e contra uma megacorporação, ou por seu comportamento exemplar de toda a vida. Uma jovem escreve uma redação bela e original aos olhos de todos, embora ela mesma não ache grande coisa; querem que a publique, ela o faz a contragosto, recebe elogios, é aclamada, mas depois tentam controlar sua escrita. Ela expõe o ridículo das palavras de ordem, dos manuais, das oficinas literárias, se é que não da pretensão de superioridade dos homens sobre as mulheres.

Outra mulher não entende os preceitos básicos da ficção, acreditando que esta deve seguir à risca as regras da realidade. Duas irmãs fingem, uma para a outra, ser o mesmo poeta apaixonado e imaginário, a primeira para agradar a irmã; a segunda para agradar a si mesma. O diário de uma mulher, escrito em 1941, e que deveria ser lido somente em 2040, ou seja, cem anos depois e duas décadas a partir de agora, é aqui antecipado aos leitores. A mulher que o mantém deseja que as anotações sirvam como documento histórico. Um blecaute a interrompe.

O que essas narradoras, e as outras nove que completam os catorze contos do livro, têm em comum, além do fato de serem todas mulheres? Vivem nas sombras, na escuridão, umas por força maior, como é o caso da última mencionada, outras porque assim desejam. E muitas delas, mesmo as que preferem passar despercebidas, dão um jeito, hora ou outra, de qualquer iluminação, seja factual, com uma vela ao jantar pobre em família ou uma saída ao sol depois de um problema de pele; seja imaterial, com o brilho da esperança pelo que ainda está por vir após as trevas. Confira um dos trechos do livro:

Depois de sair da ruela do bosque do templo, encontrei quatro ou cinco trabalhadores perto da estação. Como de praxe, eles me dirigiram palavras grosseiras que não ouso repetir. Fiquei sem saber o que fazer. Gostaria de passar na frente deles e deixá-los para trás, mas, para fazer isso, teria que andar entre eles, próxima deles. Horripilante! Por outro lado, ficar em pé, parada, permitindo que seguissem na frente, e aguardar que tomassem distância, exigiria ainda mais coragem. Eles ficariam ofendidos e zangados. Comecei a perder a paciência e tive vontade de chorar. Envergonhei-me disso, me voltei, deixei escapar um riso nervoso em sua direção e caminhei devagar atrás deles. Isso foi tudo, mas minha mortificação não se desvaneceu ao entrar no trem. Queria me tornar mais forte e determinada para ser capaz de superar essas situações estúpidas com indiferença. [p. 30]

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  • Título: Mulheres
  • Autor: Osamu Dazai
  • Tradução e posfácio: Karen Kazue Kawana
  • ISBN: 978-65-86068-61-0
  • Formato: 14 x 21 cm / 272 páginas
  • Lançamento: 08/08/2022 
  • Preço: R$68,00