Lembro-me de ir em direção a prateleira das promoções buscando algo que fosse um investimento válido e proporcional aos meus problemas monetários. Procurei pouco e logo fui pego de surpresa por um nome chamativo com uma capa legal: Melodia Infernal.

Comprei mesmo sem nunca ter ouvido falar nada sobre tal obra (Mélodies d’enfer no original), menos ainda sobre o autor o Lu Ming, porém, logo no começo do manhua (quadrinho chinês) eu já sabia que meu pouco dinheiro não tinha sido gasto com algo irrelevante.

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Sinopse: Em algum ponto entre o céu e a Terra está o local para onde vai a alma dos suicidas. Um lugar que lembra muito o Purgatório, onde os merecedores podem até sonhar com a reencarnação. Entre seus habitantes estão os membros da ‘Third Man’, uma banda de metal determinada a fazer sucesso na terra dos suicidas. Para tanto eles necessitam de um guitarrista solo em sua formação. Para achar a pessoa certa, estão dispostos a tudo, até mesmo a encontrá-lo entre os vivos. E, para que o guitarrista possa fazer parte da banda, será necessário levá-lo ao suicídio a qualquer custo.

Quem sabe fazer faz a diferença

O autor que trabalha com esse tipo de obra –  no caso quadrinhos – tende a se preocupar com a estrutura de sua narrativa por motivos óbvios, afinal na arte sequencial, uma narrativa bem estruturada gera uma historia bem contada, ou ao menos mais gostosa de ser contemplada.

Seja na estrutura dos quadros ou dos diálogos, a grande maioria segue um padrão em suas páginas, em sua narrativa. Muitos acabam por criar uma identidade visual dentro de seus padrões, isso é agradável aos olhos em determinadas obras, mas também é uma linha de trabalho que Lu Ming não parece ter muito apego.

Algumas páginas a princípio, podem parecer uma bagunça: personagens fora do quadro, falas que fogem do quadro onde o personagem se faz presente, páginas de folha inteira com quadros sobrepostos. Mesmo assim, o autor tem muito cuidado em fazer toda essa bagunça se harmonizar de alguma forma, deixando tudo mais rock n’roll, o que faz um baita sentido dentro do contexto da obra.

Ainda dentro do seu traço característico, Ming consegue expressar e ressaltar muito bem os personagens ali presentes com suas motivações, angustias e vontades; tanto que mesmo com pouco espaço para desenvolver o manhua, você acaba simpatizando com pelo menos algum personagem.

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Lu Ming, autor de Melodia Infernal (Imagem Divulgação)

Uma obra pesada

Essa é uma obra pesada tanto no quesito musical quanto em sua temática – é, eu não resisti. Enquanto lê, você acaba refletindo com: “Como os interesses de alguns influenciam a vida de outros?”, “Escolhas pouco pensadas podem trazer consequências desastrosas” e assim como na nossa realidade e falando novamente do traço de Lu Ming, ele consegue fazer o traço acompanhar muito bem as variáveis sentimentais de cada personagem, dando todo um dinamismo e uma verossimilhança para suas crianções em tons de medo e frustração.

Algumas passagens são muito interessantes por ilustrar – de forma que achei muito válida – o patamar de loucura e indiferença que tais personagens tem para com seus semelhantes, como um desejo muito poderoso e sem questionamentos prévios pode fazer qualquer um sucumbir e mudar drasticamente para pior.

Vale uma segunda leitura

Para finalizar, acredito que vale muito a pena você dar uma chance a esse manhua e uma segunda leitura com mais atenção aos detalhes, pode se provar muito agradável aos olhos de quem está disposto a ver com outros critérios de análise.

Melodia Infernal é um manhua sob autoria de Lu Ming e lançado pela Editora Conrad em 2009 e conta com 2 volumes encadernados.