Mangás, Animes e a Psicologia 2 é o segundo livro da série de três livros do mesmo nome. O título propõe fazer uma análise principalmente psicológica de alguns animes e mangás e desvendar um pouco do que está nas entrelinhas das histórias orientais.

Novamente organizado por Ivelise Fortim, o segundo volume também conta com a organização de Cristiana Rohrs Lembo e a participação de 17 autores, sendo eles:

  • Ana Bárbara Naccarati de Mello
  • Antonio Carlos dos Santos Gomes
  • Carolina M. Grando
  • Flavia Cristina Trindade Corrêa Barros
  • Giullia Longo
  • Heloísa Harumi I
  • Henrique Mota Manesco
  • Heráclito Aragão Pinheiro
  • Katia Regina Oushiro
  • Luiz Mello Gallina
  • Marcia Luiza Trindade Corrêa de Melo
  • Maria Eugênia de Almeida Fedewicz
  • Paula Guimarães
  • Roxane Pirro
  • Victor Lippelt Matheus
  • Victor Sancassani
  • Vivian de Freitas Bandeira

O livro foi publicado em 2018 pela Editora Homo Ludens e conta com 16 capítulos de análise. Neste segundo volume temos a retomada de algumas obras que já foram citadas no primeiro, sob uma perspectiva diferente. De qualquer forma, em sua maioria os animes/mangás apresentados são inéditos.

Sob o ponto de vista principalmente da Psicologia Analítica de Jung, a obra também conta com outras abordagens, tais como Psicologia Comportamental, Psicanálise, e Psicologia Social.

As obras analisadas em Mangas, Animes e a Psicologia 2 foram:

Então, agora que já fomos apresentados ao livro, vamos falar um pouquinho dos pontos que mais me chamaram atenção.

O Queridinho dos Otakus

Assim como eu falei na apresentação do primeiro volume de Mangás, Anime e a Psicologia, não poderia deixar de falar dele agora. Novamente Naruto é objeto de análise nesse livro, mostrando que talvez a organizadora Ivelise Fortim tenha um apreço maior pelo anime. Inclusive, vários elementos que compõe a capa do livro são inspirados na história criada por Masashi Kishimoto.

É claro que pra mim, uma naruteira nata, é um deleite ver Naruto sendo tão explorado dessa forma, com a certeza de que ainda existem milhares de perspectivas a serem analisadas na obra.

De qualquer forma, neste segundo volume a autora Ivelise conta como conseguiu se conectar com um jovem paciente por meio de Naruto. O garoto chamado de Rafael tinha 10 anos, era negligenciado pelos pais, fissurado em videogame e tinha problemas na escola por ser muito explosivo.

Por meio de desenhos de personagens o garoto expressava suas emoções e visão de mundo. Então, quando Rafael fez um desenho de Naruto Ivelise viu a oportunidade de fazer um paralelo da história do ninja com a história do garoto, que se sentia sozinho e quando ficava muito irritado “explodia” e se tornava agressivo. A partir daí, a psicóloga encontrou um jeito de se conectar mais com o paciente e ajudá-lo com seus problemas.

Foi por meio de Naruto que a relação psicóloga-paciente pode se fortificar, além de ser o caminho para que Rafael enxergasse melhor os sentimentos que possuía. Com a comparação do anime com a sua vida, o garoto pôde refletir sobre as situações que aconteciam com ele e, observando também os personagens que gostava, se desenvolver a partir disso.

A outra análise referente a Naruto é sobre o personagem Gaara ser o bode expiatório da Aldeia da Areia. Como ele absorveu e se tornou o que as pessoas diziam sobre ele, por meio das diversas violências e abusos.

Achei interessante a comparação feita com as pessoas que sofrem bullying intenso, que muitas vezes acabam se tornando violentas. No entanto, assim como Gaara conseguiu superar e se tornar alguém melhor, essas pessoas também podem conseguir ajuda para sair dessa situação.

Desta forma, explicando as relações e a infância traumática de Gaara, a autora mostra como o personagem se tornou a sombra, ou seja, conceito Junguiano para descrever a “personalidade oculta” que todos possuem.

Imagem Divulgação

Análises de Abrir os Olhos e a Mente

Mangás, Animes e a Psicologia 2 apresentou alguns capítulos que me surpreenderam positivamente. Lendo o título, ou vendo sobre qual obra seria abordada, não elevei muito minhas expectativas e acabei dando com a língua nos dentes.

Primeiro vou falar sobre a que mais me surpreendeu: Sailor Moon. Esse é um anime muito conhecido, um clássico dos anos 90, mas que nunca me chamou atenção. No entanto, depois de ler a análise feita por Henrique e Katia eu fiquei inquieta para assistir. Não pela história, ou pelo enredo, mas pelos simbolismos presentes na obra.

Os autores analisaram cada uma das sailors relacionando-as com deuses da mitologia greco-romana, além de outros símbolos. Eles mostraram como as personagens poderiam ser representadas, ou influenciadas por essas figuras mitológicas.

Além disso, os autores se aprofundaram bastante na simbologia da Lua, aspecto muito importante em Sailor Moon. Eles abordam o fato de Serena, a protagonista do anime, ser do signo de Câncer, este por sua vez regido pela Lua, e o que isso poderia dizer sobre sua personalidade. Com várias simbologias e algumas deusas que representam esse corpo celeste, a Lua tem relação com o psiquismo, o sentimental, com os enamorados e as emoções. No entanto, ela também pode ser vista como o feminino guerreiro, a natureza instintiva e o movimento, características presentes em Serena.

Enfim, este capítulo é um prato cheio e satisfatório para quem se interessa por esses assuntos, e particularmente, me conquistou completamente.

Já outra análise que adorei ler foi sobre as obras de Ai Yazawa, Nana e Paradise Kiss. Neste capítulo é exaltado como a mangaká quebra os padrões das narrativas femininas em shoujo.

Pegando o exemplo de Nana, a autora comenta que Hachi, uma das protagonistas do anime, tem o sonho de se tornar uma boa esposa e uma dona de casa. No entanto, quando ela consegue conquistar esse objetivo ainda assim não se sente completa ou realizada, fazendo uma crítica de que o amor e o casamento não são o destino final nem a salvação para as mulheres, como normalmente é mostrado.

Juntamente com isso, é comentado que Nana Osaki põe a sua carreira acima de qualquer coisa, inclusive dos seus relacionamentos. Vemos assim uma nova visão para os mangás shoujo, que normalmente tornam as mulheres passivas e quase escravas de seus sentimentos e relacionamentos.

Também me tocou muito o capítulo sobre Perfect Blue, trazendo uma reflexão sobre o medo de tomar decisões e sentir o abismo da angústia que o futuro pode trazer. É uma das análises mais curtas do livro, mas creio ser uma das mais profundas e reflexivas.

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Outras Nem Tanto…

Assim como tiveram capítulos que abriram minha mente de uma forma espetacular, tiveram outros que foram… ok.

Algumas análises foram maçantes, cansativas de ler e outras foram simplesmente confusas. Não sei ao certo se o autor não conseguiu explicar a história do anime direito, se o anime é complicado mesmo, ou se eu não tive capacidade o suficiente pra desvendar o que estava escrito. O ponto positivo disso tudo é que me deu vontade de assistir o anime só pra tentar entender o que o autor quis dizer.

Um ou outro capítulo eu achei apenas fraco, pouco interessante ou muito repetitivo em relação aos outros e ao primeiro livro lançado.

No entanto, foi com a análise de Your Name que eu me decepcionei. Infelizmente não sou imparcial para falar sobre isso, tendo em vista que é meu filme preferido, então você pode ler por si e tirar suas próprias conclusões.

O que me incomodou nesse capítulo não foi a autora, ou o jeito dela escrever, ou qualquer coisa do tipo. Me incomodou a abordagem escolhida para análise e principalmente o conceito junguiano utilizado.

Basicamente, o capítulo fala sobre Taki e Mitsuha entrando em contato com seus inconscientes através da anima e animus. Para Jung, anima é o lado feminino inconsciente de um homem e animus é o lado masculino inconsciente de uma mulher. O meu problema é justamente com esse conceito criado por Jung, pois não acho correto falar que o sentimentalismo é algo da mulher e a coragem algo do homem, por exemplo.

Como eu disse, essa é uma opinião pessoal, mas que acabou pesando muito para mim, pois o filme possui uma infinidade de conceitos e simbolismos que podem ser abordados e trabalhados. Vê-lo ser resumido nos dois personagens encontrando seu “lado feminino” e seu “lado masculino” foi decepcionante.

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Considerações Finais

Com seus pontos positivos e negativos na balança, o lado positivo com certeza pesa mais. O segundo volume de Mangás, Animes e a Psicologia me conquistou ainda mais do que o primeiro, trazendo, em sua maioria, um leque maior de abordagens e interpretações.

Dessa vez a revisão foi impecável, não percebi nenhum erro de digitação ou edição, o que me deixou bem feliz. Outro ponto que gostaria de exaltar é a capa, muito mais bonita esteticamente e cheia de simbolismos. Além disso, no final do livro tem uma página apenas para explicar de quais animes compõe a mandala da capa, o que eu achei sensacional. Também gostei do glossário que foi incluído, com a definição de alguns termos mais técnicos.

Por fim, acredito que Mangás, Animes e a Psicologia 2 entregou o que prometeu com ainda mais prestígio do que o primeiro volume. Então acredite, caro amigo otaku, se você gosta de desvendar simbolismos escondidos e saber o que está por trás da superfície, não vai se arrepender dessa leitura.