Um dos maiores estouros de 2017, Kakegurui foi produzido pelo estúdio MAPPA, estúdio esse que brilhou nesse mesmo ano com os aclamados Yuri on Ice e Inuyashiki, estreando na Temporada de Verão 2017.

Adaptado do mangá de mesmo nome, Kakegurui captou uma boa audiência pela sua performance bem executada e uma segunda temporada sairá agora em 2019. Vamos falar um pouco sobre a primeira temporada!

O Universo de Kakegurui em poucas palavras

Aqui, apostar é tudo. Aqui, vale de tudo, até mesmo a trapaça. Principalmente a trapaça, desde que você não seja pego com a mão na massa. O jogo? Até mesmo esse Jogo que você acabou de lembrar (sim, você perdeu)? Vale qualquer um, desde que de pleno acordo para ambas as partes. Ora, desde um simples jogo de pôquer até, quem sabe, roleta russa, por que não? O jogo é só um meio. O fim é a aposta e dela sair vencedora.

É nesse ambiente de adrenalina extremada e a guerra psicológica é levada ao limite do exagero onde os estudantes da Academia Privada Hyakkaou vivem, constroem e eventualmente destroem suas vidas. Esse é o mundo de Kakegurui.

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Kakegurui (Pôster Divulgação)

Diferenciando aqueles no topo

Nessa escola está concentrada a elite da elite; filhos e filhas nascidos em berço de ouro, em berços de grandes magnatas e funcionários do alto escalão do governo. Com a vida feita, sem a preocupação de construí-la do zero, como se livrar do tédio inevitável? Num lugar aonde todos vem dos lugares mais destacados, como destacar-se ainda mais?
Pois aí reside uma das genialidades de Kakegurui muito antes do anime começar a apresentar os seus personagens.

Mesmo todos sendo suficientemente bem abastados e com a vida ganha, estar entre os seus pares não basta. A urgência de diferenciar-se dos demais, mesmo todos estando no topo, nos mostra de maneira inteligente como nascem as hierarquias. Fora da escola, todos estão acima do resto. Mas dentro da escola, todos são iguais. As apostas exorbitantes são o meio pelo qual aqueles que já estão no topo se hierarquizam entre si.

Vencer não significa apenas ganhar dinheiro, pois todos o tem. Vencer significa levar o outro à falência e endividado. Uma vez levado à bancarrota, o endividado ganha o status de “Gado”, virando propriedade do vencedor. E o gado deixa de ser uma pessoa para virar o alvo da chacota de todos os estudantes. Essa é a hierarquia que opera em Kakegurui.

É tudo sobre interpretação

Em um desses jogos de apostas milionárias na Academia Hyakkou, Ryouta Suzui, o nosso típico rapaz frouxo e inseguro que é de praxe em qualquer anime, perde uma aposta contra uma aluna bastante orgulhosa de sua habilidade em trapacear sem ser pega no flagra. Invicta partida após partida, Mary Saotome é desafiada por uma aluna nova. Muito bonita e de semblante bastante ingênuo, a vitória parecia certa. Mas a diferença entre as duas começou a ficar mais nítida. Havia algo de incomum nessa garota.

Jabami Yumeko. A garota gentil e despretensiosa fora do jogo virava uma outra pessoa quando começava a apostar. Para começar, pouco importava se ela ganhava ou perdia. O prazer (quase erótico) estava puramente na aposta e no risco que ela trazia. Esse êxtase, acompanhado de uma capacidade excepcional em ler sua oponente e o ambiente, cria a marca registrada de Kakegurui: a interpretação de seus personagens nos momentos de maior adrenalina em suas disputas. Alguém poderá dizer que trata-se de um anime “edgy” como Mirai Nikki ou King’s Game e por isso essa interpretação não teria nada de mais.

Mas o que a primeira temporada de Kakegurui nos mostrou é que o uso extremado de expressões faciais, olhares e falas que beiram a psicose serve sim um propósito. O agir das oponentes que apostam com Yumeko e o jeito como ela se aproveita disso para sua vantagem explora uma dualidade bastante presente no imaginário japonês.

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Ura e Omote

A face, a conduta que você revela para todos, a sua persona diante do mundo: omote. Aquilo que que está oculto de todos e que está por trás de sua faceta: ura. Podemos ver essas duas noções bem expressas em praticamente todas a garotas de Kakegurui. A cordialidade, a boa educação típica do omote, quando puxadas ao limite, seja pelo êxtase da vitória ou pelo pânico da derrota e da dívida iminente, fazem ruir as máscaras e dar lugar ao ura, àquilo que há de mais cru na personalidade de cada uma. Seja a psicose de Yumeko pelas apostas ou seja à arrogância de Mary com sua mania de superioridade.

Uma nítida exceção à norma seja a Midari Ikishima, claramente aberta em seu sonho pela morte e a alegria que ela tira em apostar a vida em seus jogos doentios. Mas a cereja do bolo, sem dúvida, é a disputa de Yumeko com Yumirin, a idol que por de trás de sorrisos fofos e muito amor superficial, usa seus fãs gordos, estranhos e nojentos (segundo ela própria) para subir na sua carreira como idol. O desfecho dessa disputa é um dos pontos mais altos dessa primeira temporada e qualquer coincidência com a realidade é meramente semelhança.

Conclusão

Kakegurui é o termo usado para os viciados em apostas ou em jogos de azar, como o pachinko, o mais famoso no Japão. No caso de nossa apostador nata, Yumeko não tem necessariamente um vício já que ela consegue ser até um doce de pessoa com um Zé Ninguém como o Suzui. Tudo isso muda quando é ela quem está sentada na mesa do jogo, como se um espírito a possuísse.

A primeira temporada de Kakegurui focou principalmente nisso, em mostrar semana a semana uma partida diferente e as dinâmicas de seus oponentes. Expressões faciais, ângulos, iluminação, essa temporada foi também uma apresentação estética do ambiente do anime. A história em si ficou bem de fora. Não sabemos bem o que é essa escola, ou sobre seus dirigentes ou sobre o mundo lá fora.

Como a mesma produtora será a responsável pela segunda temporada, talvez seja esse o momento de desvelar esses mistérios. Independente deles, Kakegurui foi merecidamente uma das maiores revelações de 2017 e ele é fortemente recomendado para quem queira assistir um ótimo anime!

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