O ano de 2019 está sendo marcado pelo retorno da década noventista. Se parar para pensar, nos anos 90 o Palmeiras era o time mais temido do futebol brasileiro, a Band tinha cine privê aos sábados, e muitos filmes como Rei Leão, Aladdin, Toy Story e MIB estrearam na década. Só faltou um filme do Tarantino!

E ele veio! Os anos noventa reencarnam em 2019, e do mesmo jeito que Quentin Tarantino nos deu prazer de suas obras no cinema, dessa vez ele entrega sua mesma fórmula já conhecida e nos agracia com uma obra fantástica e marcante – dessa vez para separar quem é fã de cinema ou só assiste filme pop. Chamar Era Uma Vez em Hollywood de filme do ano não é um exagero, mesmo ainda estando no início do segundo semestre.

Linguagem Datada

Não é um filme para todo mundo, a linguagem mais lenta de antigamente, histórias paralelas, cenas fortes e marcantes que vão permanecer na cabeça de todo mundo. Como é bom ter Tarantino de volta, trazendo aquilo que a gente espera, em Era uma Vez em Hollywood é praticamente isso, Cliff Booth (Brad Pitt), Rick Dalton (Leonardo DiCapro) e Sharon Tate (Margot Robbie) ligados pela mesma crise existencial do ator velho.

No caso Brad Pitt, um dublê marcado por um passado sombrio, cada personagem têm uma história para ser contada, e todas se destacam em pontos diferentes; enquanto Rick tenta mais uma vez mostrar que pode ser o grande ator que um dia foi, Sharon vive do sucesso de seu passado, indo assistir a si mesma no cinema em filmes antigos. Enquanto isso, Cliff é o mais centrado dos três, onde tenta se reafirmar como grande dublê, mas a sua história coloca ele como alguém não querido, parece até muita coisa para um filme só, três histórias que traçam rumos diferentes e ainda estão interligadas, mas é Tarantino, então lógico que ele ia acertar de novo.

era uma vez em hollywood
Era Uma Vez em Hollywood / Sony Pictures

Três Tramas Entrelaçadas

Essa trama separada em três histórias é marcada por dois pontos que irão impactar a todos, primeiro o show de atuação dos protagonistas, principalmente de DiCapro; chamá-lo de bom ator é ofensivo, pois ele está além de bom, o cara está na primeira prateleira dos melhores atores em atividade, apesar de Joaquim Phoenix estar sendo elogiado por Joker no Festival de Veneza, o vilão do Batman vai ter uma grande concorrência para as premiações da academia, e segundo pode-se dizer que foi uma surpresa até que desapontadora, que é a falta de sangue – apesar de existir em cena, não é padrão Tarantino.

O conjunto da obra faz você esquecer esse último detalhe, e as cenas de ação são tão extremas que faz você gritar no cinema, as quais balanceia com a lentidão de construção da trama. Detalhe: Tarantino sabe fazer muito bem isso, mas para linguagem do cinema moderno, pode incomodar algumas pessoas, e esse é o ponto que deve ser destacado.

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Era Uma Vez em Hollywood / Sony Pictures

Dividindo opiniões?

Era Uma Vez em Hollywood será o filme que vai dividir opinões dos cinéfilos e fãs em geral, pois doa a quem doer, esse filme dá de dez a zero a qualquer filme genérico pop, trazendo fotografias, trama e até atuações que te fazia falta no cinema, sair um pouco do CGI excessivo e de heróis coloridos te faz aclamar esse filme mais e mais.

Quando o longa começa e vem aquela frase: “A film by Quentin Tarantino”, você até relaxa, solta um suspiro e diz: Estou em casa; entretanto os nerds de plantão que só se consideram fãs de cinema por causa de Marvel, DC ou qualquer porcaria de reboot comercial, vão detestar o filme – e venho pedir desculpas a todos que se ofenderem, mas ver esses “cinéfilos modernos” reclamar do filme porque achou chato e lento, é música para meus ouvidos, pois a muito tempo que não se vê um filme desse patamar de qualidade, e quando surge, são só para as temporadas de prêmios, e mesmo assim eles não estão impressionando.

Esse filme é para quem conhece a linguagem cinematográfica de Quentin Tarantino e/ou reconhece que o cinema moderno é a mesma jornada do herói com skin diferente para fins lucrativos, passe longe desse filme se o seu gosto for só para MCU, tentativas da DC ou qualquer coisa do gênero, você vai chiar e considerar Tarantino supervalorizado, Era uma Vez em Hollywood é um filme para poucos com uma das melhores e nostálgicas experiências que o cinema um dia já proporcionou, mesmo assim é controverso dizer isso, pois o próprio Tarantino é um nerd e vai finalizar sua carreira com um filme do Star Trek. Ainda assim, em coletiva, o mesmo já falou que CGI é uma covardia, e sinceramente, ele não está errado.

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Era Uma Vez em Hollywood / Sony Pictures

Se for o último, terminará a carreira muito bem!

Para aqueles que não são fãs de Star Trek e vão passar longe do último filme de Tarantino, pode-se dizer que Era Uma Vez em Hollywood é o final perfeito para uma era do diretor mais aclamado do cinema mundial.

Apesar de Scorcese e Spielberg estarem no mesmo nível, a carga que Tarantino já trouxe em seus filmes serviram de inspiração para milhões de produções do século XXI, inclusive em séries e desenhos, se acham que ele não seria bom em filmes de heróis, assista Kill Bill e mude sua opinião, pode-se dizer que é um dos diretores mais versáteis de Hollywood, e ele estar no pedestal de maior diretor de todos não é um exagero.

Parabéns Tarantino, você conseguiu de novo, uma produção que se mostra a brecha da repetição saturada do cinema moderno e a esperança de que velhos diretores podem ainda surpreender nas telonas!