Eu me arrisco dizer que a maior parte dos brasileiros já devem ter ouvido falar, em algum momento, sobre Bacurau. Seja por ele “ser muito estranho”, ou então em alguma recomendação de vídeo como explicando Bacurau”, seja ainda na televisão, anunciando que o longa brasileiro foi elogiado pelas críticas internacionais, indicado e ganhador de prêmios, seja ainda pela curiosidade de “Por que um filme nacional ficou tanto tempo no cinema?”.

Já faz tempo, eu me arrisco a dizer, que o cinema nacional tem ganhado voz. Apesar dele sempre ter feito filmes bons, estes eram raros, um lançamento aqui e outro ali… A maioria indo direto para televisão, não se atrevendo a passar muito tempo nas telas de cinema, ou quando passavam, ficando em poucos horários acessíveis. Porém, na última década o cinema brasileiro ascendeu. Apesar de ainda haver muito espaço para comédias, sátiras e estereótipos, o cinema de gênero tem crescido bastante, e dando lugar a dramas e filmes de horror que nada perdem em comparação aos estrangeiros.

Bacurau, título do longa, é o nome de uma ave de hábitos noturnos encontrada no sertão do Brasil – este – que é o palco e cenário do filme. Passado em um futuro (não tão distante) da cidade fictícia de Bacurau, a trama se desenrola no mistério da chegada de forasteiros estrangeiros ao mesmo tempo que a cidadezinha desaparece dos mapas brasileiros, como se jamais tivesse existido.

Eu poderia até falar mais da trama, porém, grande parte da graça de Bacurau é justamente ir assistir sem saber de nada. Se a sinopse não lhe disse muita coisa, e você ainda não entendeu do que se trata o filme, ótimo! Pois é esse mesmo o objetivo.

Não é que a produção seja confusa, ou cheia de artimanhas intelectuais que nem outros filmes que você sai com mais dúvidas do que respostas, muito pelo contrário. Bacurau é um filme direto, simples, mas ele choca (e encanta) justamente pela sinceridade inesperada, que vai como um soco na boca gerando questionamentos pelas verdades que ninguém quer dizer.

Na medida certa, sem se estender além da conta, o filme debate sobre temas como família, comunidade, miséria, solidão, crime e humanidade. Ao mesmo tempo que é um filme de terror, drama, suspense, faroeste e gore que nos poupa de cenas sanguinolentas e chocantes, porque o intuito é justamente esse: chocar para refletir.

Com atuações brilhantes, enredo que dialoga com qualquer brasileiro, e genialidade por parte da direção de Kléber Mendonça Filho, Bacurau é uma daquelas obras para se ver sempre, para mim, um dos novos clássicos da filmografia brasileira.

Se tiver a oportunidade não perca a chance de vê-lo no cinema, já que – apesar de meses da sua estreia – o longa permanece em muitas salas a disposição do público. E lembre-se, que se for, vá na paz.

REVIEW
Bacurau
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Doka
Bibliotecária, especialista em conservação de histórias em quadrinhos, pesquisadora na área de educação, princesa da Disney e apaixonada por Sailor Moon a mais de 20 anos.
bacurau-reviewOs moradores de um pequeno povoado do sertão brasileiro, chamado Bacurau, descobrem que a comunidade não consta mais em qualquer mapa. Aos poucos, percebem algo estranho na região: enquanto drones passeiam pelos céus, estrangeiros chegam à cidade. Quando carros se tornam vítimas de tiros e cadáveres começam a aparecer, Teresa, Domingas, Acácio, Plínio, Lunga e outros habitantes chegam à conclusão de que estão sendo atacados. Falta identificar o inimigo e criar coletivamente um meio de defesa.