MEMÓRIA

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade. Claro Enigma. Companhia das Letras.

É dialogando com o poema Memória de Carlos Drummond de Andrade que AmoreZ – coletânea de histórias curtas da autora Regiane Folter – nos faz refletir sobre as várias facetas do amor.

As histórias que vão de A à Z apresentam graça e sutileza e colocam diante de nós os momentos cotidianos em que o amor está inserido. Em Aceitação – história que abre o livro – o narrador que pode ser tanto homem quanto mulher diz: “aceito meus defeitos e tento ver neles um ponto de partida para melhorar”. Aceitar quem somos é o primeiro passo na busca do amor próprio. “Eu leio. Desde que aprendi, nunca mais parei” ressalta a narradora de Biblioteca que ao final exprime o amor e a importância da leitura que felizmente demonstra um dos papéis que a literatura tem em nossas vidas senão o de nos orientar, de fazer com que enxerguemos o mundo com novos olhos.

Já em Despedidas temos o questionamento do valer a pena, a dúvida que sempre resta depois da partida ou criação de novos laços que na constante da vida um dia se tornaram em despedidas. Noutra história que dialoga com Despedidas, Fim apresenta o término da relação de um casal. Ambos vêem o amor que se distanciou flutuar como um balão nos céus, não restando nem ao menos um aceno de mão na despedida.

Genética é uma ode as mães e da importância dessa figura tão complexa, mas tão caridosa. Num misto de amor e tristeza a narradora comenta: “Vejo outras pessoas que não têm a mesma conexão com suas mães e isso me parece tão triste”. É na Hipótese que nunca sabemos se o amor é uma garantia ou apenas um sonho que aproxima a pessoa amada de nós.

Há espaço até mesmo para a Nostalgia – história em que a autora nos fornece a receita para esquecer a morte – mas é em Prece que ela instruí: “Eu preciso de um amor seguro”. Sim. Nós precisamos de um amor seguro, um amor no qual podemos depositar nossos altos e baixos.

Nem mesmo o amor canino escapa a caneta de Regiane, pois em Querer, a cachorra por mais advertências que leve, sempre vai amar sua dona.

Enquanto Sororidade traz a tona os discursos que a narradora ouve de familiares: “Você precisa encontrar alguém. Você precisa”. “Porque estar só é como um atestado de fracasso”, condição que muitos pensam ser sinônimo de felicidade, em Temperatura, Vivenciar e Zelo, Regiane resgata a importância do amor.

AmoreZ nos alerta que é no trem da vida que nós – passageiros – vemos as paisagens do amor. Sejam ruins ou boas. O amor como no título de Carlos Drummond de Andrade é esse Claro Enigma.

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