Atendendo às participações da cultura japonesa na Bienal do Livro 2019, o Café Literário teve uma excelente mesa composta por dois escritores nikkeis (descendentes de japoneses), uma estudiosa sobre mangás e cultura pop japonesa e o editor da Estação Liberdade, a melhor fonte de literatura japonesa disponível em língua portuguesa em todo o país.

O SUCO esteve lá presenciando essa ótima conversa e resume aqui os destaques de cada uma das partes:

bienal do livro 2019

Sonya Luyten é uma pesquisadora sobre mídias pop japonesas, sendo pioneira no assunto aqui no Brasil. Ela é autora dos livros “Cultura Pop Japonesa: Mangá e Anime” e “Mangá: O Poder dos Quadrinhos Japoneses”. Foi dela a mediação da conversa, fazendo as perguntas, provocações e comunicando questões da plateia.

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André Kondo é um escritor com mais de dez livros publicados e vários prêmios literários recebidos. Suas crônicas são inspiradas pela vivência na comunidade nipo-brasileira, o seu legado e, principalmente, pelas lições de sua família. Escreveu “Contos do Sol Nascente” e “Contos do Sol Renascente”. Seu destaque foi para o livro “O Pequeno Samurai”, inspirado na avó e sua disposição de enxergar o lado bom de todas as coisas: do budismo, do catolicismo e até mesmo de um copo quebrado. “Tudo bom”, “Mesmo quando a coisa não bom, ainda bom”, dizia a senhora ao neto, que levou a lição de positividade para seu livro.

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Lúcia Hiratsuka é dona de uma imaginação infantil naquilo que ela tem de melhor: o amor pelos tempos de criança no interior e a curiosidade pelas pequenas coisas que inundam o dia-a-dia. É nesse espírito que ela fez os livros “Chão de Peixes” e “Orie”. A inspiração veio do haiga (??), um poema haikai (??) acompanhada de uma ilustração (?).

Apesar de sua participação na mesa ter focado apenas nos livros ilustrados, Lúcia comentou para o Suco sobre outro livro, dessa vez voltado para o público infantil. “Os Livros de Sayuri” é inspirado nas dificuldades que os imigrantes japoneses viveram nos tempos da Segunda Guerra Mundial. Pegando na memória a lembrança da avó e da mãe, Lúcia conta a história de Sayuri, uma menina que tenta aprender a ler e a escrever em tempos onde era proibido falar a língua de sua família.

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Angel Bojadsen é editor da Estação Liberdade há mais de 25 anos, praticamente durante toda a vida da editora, que existe desde 1989. Seu trabalho tem uma importância enorme para os fãs da cultura japonesa, porque uma parte imensa da literatura japonesa disponível atualmente passou por suas mãos como editor. Assim, se hoje em dia temos grandes nomes como Ryunosuke Akutagawa, Yasunori Kawabata, Yoko Ogawa e Haruki Murakami em português, uma boa dose de gratidão lhe é bem justa.

O contato de Angel com a cultura japonesa veio por chance. Na mesa, ele expressou o seu fascínio pela arquitetura japonesa atual e a floresta urbana das ruas de Tokyo. O livro “Império dos Signos” de Roland Barthes, lhe serviu de base para falar das ruas anônimas da metrópole japonesa. Seu fascínio estava no fato das pessoas dependerem da memória para se localizarem, mais do que o auxílio de endereços.

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O público ficou interessado em saber dos autores nikkeis sobre suas inspirações para a escrita e o quanto que a comunidade nipo-brasileira continua interessada em se manter ligada à herança cultural de seus predecessores, que ainda é bem presente apesar de alguns distanciamentos.

Antes de abrir espaço às perguntas, no entanto, Sonya Luyten, com muito bom humor, abriu a seção de perguntas e respostas com uma curiosidade sobre a origem da palavra mangá: os hokusai manga, do lendário autor das Ondas de Kanagawa. Além de pintar ondas e o Monte Fuji, Hokusai também passou a focar o comum, como banhistas ao lago.

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De Hokusai, há séculos atrás, até Lúcia Hiratsuka e André Kondo nos dias de hoje, a sensibilidade do cotidiano vira material para uma arte perene e encantadora, algo que este painel no Café Literário foi bem capaz de provar ao público.